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O RISCO DA INDISCIPLINA. ENTREVISTA COM RONIE SILVEIRA

O RISCO DA INDISCIPLINA. ENTREVISTA COM RONIE SILVEIRA

Esta semana esta disponível o episódio do podcast filosofia pop em que Murilo Ferraz e eu entrevistamos o filósofo Ronie Silveira. Conheço Ronie há quase 10 anos, desde 2006 quando participamos de um encontro do Grupo de Estudos em Pragmatismo e Filosofia Norte-Americana. Neste encontro apresentei um trabalho em que analiasava a necessidade de heróis na cultura brasileira a partir de um diálogo com a canção Faroeste Caboclo da Legião Urbana.  Este tema estranho foi muito bem recebido pelos colegas do GT, dentre eles, minha futura orientadora no doutorado Susana de Castro e Ronie. Essa recepção positiva foi uma novidade, já que na UFG minhas propostas de comunicação não-canônicas eram sumariamente rejeitadas. Era a “seriedade” acadêmica impedindo qualquer espaço para vozes divergentes. Isso não era novidade para Ronie, que havia feito graduação na UFG e então fazia doutorado em Psicologia: muitas vezes para fazer filosofia é preciso sair da filosofia (acadêmica). A simpatia e apopio de Ronie ajudaram a seguir neste caminho “distoante”.  Ano passado entrevistei Ronie para o primeiro número da revista Capoeira – Revista Humanidades e Letras . Nesta entrevista surge a imagem de um filósofo produtivo e promissor. No podcast Ronie já deu um passo adiante com a publicação de Apresentação do Brasil, a ansiedade de Ronie para desafinar o coro dos contentes é tamanha que ele não esperou o aval de qualquer editora para colocar suas palavras na rede. Nessa entrevista pré-Apresentação temos um momento anterior em que essa ansiedade fica evidente: que o incomodo gere respostas!  

 

 Marcos Carvalho Lopes

O filósofo Ronie Silveira aceita o risco da indisciplina. Neste risco está a possibilidade de ir além do previsível, de sair dos limites daquilo que os guardas das fronteiras acadêmicas consideram seguro, de efetivamente filosofar. Paradoxalmente, de nenhuma forma, ele aceita a celebração heroica e autoindulgente da atividade filosófica como alguma coisa especial e superior as demais. Se um bom pedreiro é aquele que é capaz de construir uma casa confortável e segura, um bom filósofo deve ser capaz de colocar seu contexto em questão, de pensar e fazer pensar. Ainda assim, um bom filósofo pode ser um bom pedreiro amador nos fins de semana ou na medida em que é preciso. A filosofia não é uma atividade sagrada e incomensurável. Isso deveria ser óbvio e comum. Mas ao conceber a filosofia deste modo, Ronie a identifica com uma tarefa poética, provisória e contextual. Se “a linguagem é a casa do ser”, como sentenciou Heidegger, traduzir o melhor no mais comum, sem heroísmo e nostalgia, talvez tenha mais semelhança em construir uma casa boa para viver com sua família numa cidade qualquer, do que a tarefa de construir uma cabana isolada para celebrar a solidão no meio da floresta negra.

Deste modo, a filosofia é uma atividade que se faz em comum, em conversação com outros. Por isso mesmo, essa entrevista é uma oportunidade para que o leitor se aproxime de um bom filósofo brasileiro que nos ensina a colocar nosso tempo e contexto em questão.

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Sua trajetória intelectual é singular. Gostaria que falasse um pouco do que te levou a fazer graduação e mestrado em Filosofia e doutorado em Psicologia.

 

Na verdade essa singularidade foi se fazendo ao acaso, sem a preocupação de ter uma carreira ou um perfil profissional consistente. Acho que fui percebendo ao longo do tempo que tudo pode ser útil para o pensamento, mesmo aquilo que não parece estar conectado à filosofia, que é minha maneira predominante de pensar. Ao contrário daquilo que me parece ser referência no meio acadêmico atual, minha formação foi bastante caótica e não parece poder servir de modelo para alguém responsável. A própria opção por cursar filosofia foi uma opção romântica e muito pouco prática. Acho que gostei desse tipo de opção e acabei aplicando-a depois outras vezes. Meu doutorado em psicologia, por exemplo, foi uma contingência propiciada pela insatisfação com o elitismo dos filósofos brasileiros. Ao procurar orientação para fazer doutorado em filosofia, me deparei com arrogância, falta de disposição para o diálogo, brigas por posições de poder minúsculas e burocracia. Ou seja, a coisa parecia fadada ao fracasso desde o início e o ambiente me parecia pouco propício a me permitir trabalhar com prazer. Como eu já pesquisava o tema da memória humana e fui muito bem recebido pela Profa. Lilian Stein e seu grupo no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS decidi-me por fazer um doutorado nessa área. Na verdade, não optei pela psicologia. Optei por evitar a falta de diálogo intelectual existente no meio acadêmico filosófico da época. Isso talvez possa tornar evidente que a filosofia não esteja muito distante daquelas características que marcam a cultura intelectual brasileira. Apesar dos filósofos se dizerem muito diferentes do restante dos intelectuais, eles estão inseridos organicamente no mundo em que vivem. Claro que cursar doutorado em psicologia me ensinou muitas coisas que uso hoje, mas reconheço que o impulso original foi evadir-se do ambiente ruim que existia na filosofia naquela época. Por isso, entendo que minha formação expressa certo romantismo e despreocupação com a carreira muito mais do que um projeto bem estruturado.

 

Ao assumir/procurar outras maneiras de viver dialogando com suas circunstâncias, esquivando-se da adaptação e da acomodação, não permanece heroica a decisão de ser filósofo no Brasil?

 

Não acredito nisso. Para isso eu teria que ter a convicção de que minha formação é um exemplo para outras pessoas. E não tenho. Acho que não é nem um pouco heroico ser filósofo. A ideia de que um intelectual é um herói é um grande equívoco ligado a um movimento de autopromoção da nossa carreira. São os próprios intelectuais que se julgam superiores e como são eles que controlam grande parte do discurso sobre si mesmos, é natural que essa falsa noção tenha se difundido muito. Edificar casas confortáveis e seguras talvez seja algo mais heroico do que ser filósofo. Os filósofos adoram vender seu peixe por um preço elevado. Isso é um resquício da posição privilegiada que a religião ocupava no campo da cultura humana, da qual herdamos certo ar sacerdotal. Hoje em dia essa postura leva à fundação de seitas que se promovem, mas que falam coisas cada vez menos interessantes para o restante da população. Então não acredito que seja heroico ser filósofo no Brasil ou na Antártica. Ela pode ser uma ocupação digna ou não. Ela pode, inclusive, ser motivada apenas por interesse financeiro, porque isso é uma atitude comum em várias profissões. Não há nenhum demérito nisso. Mas ser filósofo não é nenhum tipo de heroísmo. Há, inclusive, muitos filósofos covardes ou com outros defeitos que várias pessoas não filósofas possuem.

 

Você diagnóstica a reivindicação de seriedade como uma contraparte psicológica da reivindicação do poder metafísico de separar realidade e aparência. O riso e a seriedade não mantém uma tensão insuperável?

 

Parece-me que a seriedade é uma expressão psicológica da separação entre uma condição de vida distante daquilo que desejamos. Ou seja, ela resulta da experiência de que temos que percorrer uma longa distância existente entre onde estamos e onde desejamos estar. As religiões monoteístas são aquelas que exigem maior seriedade porque implicam na experiência do afastamento mais profundo entre Deus e os homens. Por outro lado, me parece que a situação típica da cultura contemporânea ocidental não se pauta mais por esse afastamento entre o mundo da aparência e o da realidade (uma tese que exigiria muitos argumentos). Portanto, a seriedade é uma atitude psicológica que tende a cair em desuso no nosso mundo. Seria desejável que introduzíssemos o humor no conhecimento, de tal forma que ele se tornasse mais adequado ao modo de vida atual. Se não o fizermos, os intelectuais terão sua função social substituída por pessoas com um discurso mais adequado ao ambiente cultural, a um mundo mais divertido e prazeroso, menos sacerdotal e mais lúdico. Claro que podemos pensar que o mundo se encontra em uma situação decadente e seja condenável – formas do moralismo. Daí nos restaria somente adotar a posição de alguma seita milenarista e aguardar o fim dos tempos. Eu prefiro a opção do humor.

 

Você defende a vigência de uma democracia epistemológica na qual é preciso valorizar maneiras alternativas de produzir conhecimento. Com isso, redescreve a noção de humanidades valorizando a “interdisciplinaridade”. Gostaria que explicasse essa percepção híbrida do trabalho em humanidades.

 

Se eliminarmos a noção de que há formas especiais de conhecimento, formas privilegiadas em algum sentido, então só podemos nos mover lateralmente nesse ambiente plano. Claro que podemos ficar parados também! Nesse caso, morreremos exatamente no mesmo lugar em que nascemos. É uma opção. Eu prefiro me mover. E, nesse caso, só posso me mover para os lados – e não para cima ou para baixo. A vantagem é que não corro o risco de cair no inferno, embora certamente não vá para o paraíso. Então, o trabalho intelectual assume a forma desse movimento lateral com relação a outros conhecimentos. Para isso, se requer o estabelecimento de um diálogo. Para haver diálogo é preciso que alguém se ocupe em aprender a língua dos demais. Dessa forma, o diálogo se torna uma necessidade para evitar o confinamento e a separação. Interdisciplinaridade não é, portanto, uma proposta teórica e sim a única saída prática para o tipo de cultura industrial do conhecimento que tem se desenvolvido no mundo ocidental. A cultura epistemológica é industrial porque vem adquirindo os mesmos padrões de qualquer outra indústria: produzir muito com menos recursos. Não creio que ela seja totalmente ruim, mas acredito que a interdisciplinaridade pode nos auxiliar a minimizar os defeitos da segmentação excessiva do conhecimento na sua feição atual. Talvez ela não seja o melhor remédio, mas é um remédio que está à mão e pode ser utilizado agora.

 

William Irwin um dos principais organizadores da série de livros da série “The Blackwell Philosophy and Pop Culture Series” (de Simpsons e a Filosofia, Matrix e a filosofia etc.) acredita que a cultura popular não pode em si mesma ser filosófica, mas que somente serve de mote para fisgar os leitores para questões filosóficas. Você concorda com Irwin?Discordo. A cultura popular não é filosófica porque não tem essa pretensão nem precisa se tornar filosofia. A ideia de fisgar leitores para questões filosóficas parece indicar que isso é algo bom e desejável por si mesmo. Para mim, se trata de uma proposta iluminista de retirar a cultura popular das trevas. Talvez seja igualmente bom fisgar filósofos para questões populares. Prefiro pensar que um diálogo entre filosofia e cultura popular seja um ganho para ambas as partes em função da interlocução que se cria e dos muros que derrubamos e não como um tipo de enobrecimento e elevação da cultura popular em direção à filosofia. Quero dizer que não vejo a filosofia como um tipo de discurso em que tudo deve desaguar, como um destino evolutivo da cultura popular. Seria lastimável e desastroso que nós substituíssemos a cultura popular pela filosofia. No meu trabalho tento não instrumentalizar a cultura popular como um tipo de cavalo para assuntos filosóficos, embora saiba que essa é uma tentação de muitos dos meus colegas. Não se trata de dar uma mão de tinta filosófica em assuntos populares. Prefiro pensar que a cultura popular pode estar me dizendo coisas, a seu próprio modo, que a filosofia ainda não pensou nem captou. Isso exige arredar pé da noção de que a filosofia é o umbigo do mundo e que o que se faz com esse trabalho ligado à cultura popular é uma forma de fazê-la ser introduzida em ambientes não filosóficos.

Aliás, essa postura que acabei de apresentar é típica da elite brasileira e seus projetos para a educação da população. As expressões “governo popular”, “partido popular”, “universidade popular” etc. são equivocadas porque supõem a necessidade de que a cultura popular assuma a forma de “governo”, de “partido” ou de “universidade”. Ou seja, elas reiteram, contra sua própria intenção original, os valores elitistas de que a cultura popular tem de assumir a forma de vida da elite. Observe que a cultura popular vive e sempre viveu sem se expressar em um governo, um partido ou uma universidade. Então, o desejo de levar emancipação ao povo implica em revestir-se do manto sagrado do iluminismo e do cajado com o qual a elite abrirá o Mar Vermelho ao meio e conduzirá os desprovidos para a terra em que jorra o leite e o mel. Por isso, falei antes daquele resíduo sacerdotal da atividade filosófica.

Você é organizador de uma série de livros que propõe o diálogo da filosofia com a cultura brasileira (Futebol e a Filosofia e, em parceria Sérgio Schaefer, Drummond e a Filosofia, Caetano e a Filosofia e O Cinema Brasileiro e a Filosofia).  Este tipo de trabalho é incomum na academia brasileira. Gostaria que explicasse o que te levou a assumir este tipo de projeto e como tem sido a recepção dentro e fora da academia.

O que me levou a esse tipo de projeto, em parceria com Sérgio Schaefer, é a constatação de que a filosofia brasileira replicava o velho padrão colonial de fazer-se de costas para o Brasil. Nós, os filósofos, gostamos de dizer que pensamos a realidade, mas os filósofos brasileiros não vivem no Brasil. Claro que o conhecimento da história da filosofia é uma necessidade inquestionável para nós, porém isso não pode ser tudo o que os filósofos brasileiros fazem. Compreendo que o conhecimento da história da nossa área específica equivale a dotar-se de boas ferramentas, mas não podemos parar justamente quando estamos aptos para filosofar sobre a realidade. Seguir adiante, nesse caso, é usar essas ferramentas para fazer aquilo que os filósofos gostam de dizer que fazem: pensar o mundo que nos cerca. Ora, o mundo que cerca os filósofos brasileiros é o Brasil. Então, me parece necessário que se use as ferramentas que afiamos ao longo da tradição ocidental. Parece-me razoável dedicar-me a esse tipo de trabalho porque, assim, estou sendo um filósofo.

Acredito que a recepção dentro da academia não seja boa porque não é isso que se valoriza dentro dela. O que se valoriza na academia filosófica brasileira ainda são os estudos de autores, as teses sobre o pensamento dos filósofos. Fora dela, ao contrário, a recepção é muito melhor. As pessoas se surpreendem um pouco com os temas, mas logo percebem que o material é interessante e abre perspectivas para que se possa pensar o país de maneira original. Claro que mesmo com o esforço dos meus colegas (os livros que você citou são todos coletâneas) os textos requerem leitores com uma formação geral média e grande interesse pelo país. Dessa forma, tentamos fazer chegar ao leitor um texto não acadêmico – o que também dá trabalho e não é valorizado no meio acadêmico em função justamente dessa característica. Basicamente, nós escrevemos para fora das nossas respectivas comunidades paroquiais filosóficas (platonistas, kantianos etc.). Seria estranho se a academia julgasse bem um trabalho que não é voltado para ela.

O grande problema do projeto é editorial. Ainda não consegui uma editora que compre a ideia do projeto, apenas um ou outro livro avulso. Então, a cada novo livro organizado (“O Samba e a Filosofia” que está pronto ou “O Carnaval e a Filosofia” que está em preparação), temos que sair procurando uma editora interessada. O ideal seria poder contar com uma editora já definida, o que nos daria mais tranquilidade para tocar o projeto adiante com tranquilidade. Parece-me que faltam empresários no ramo editorial.

Existem outros projetos de livros nesta mesma linha? Quais os temas e em que fase de produção estão?

Sim. Acabo de citar dois: “O Samba” está em fase final de edição e deve sair pela Editora Prismas do Paraná. “O Carnaval” está em fase de redação e não temos ainda uma editora envolvida no processo. Os interessados em publicá-lo podem fazer contato comigo (roniefilosofia@gmail.com). Não pagamos para publicar.

Numa análise instigante do movimento Ocupe Wall Street e WikeLeaks você os descreve como parte de um fenômeno de ascensão do individuo e questionamento das formas de política representativas. A mesma análise vale para os movimentos de Julho de 2013 no Brasil?

Cheguei a cogitar que sim e que os movimentos de julho de 2013 no Brasil estavam alinhados com a intensificação do espírito individualista das democracias ocidentais mais avançadas. Mas mudei de ideia a esse respeito ao enquadrar os movimentos na nossa própria disposição política para o exercício da desconfiança generalizada. Sinteticamente, posso dizer que não há individualismo no Brasil, nem democracia, pelo menos não como entendemos esses termos no contexto da modernidade européia e seus desdobramentos contemporâneos. Então nossas peculiaridades políticas não podem ser identificadas como alinhadas com os fenômenos recentes da cultura de matriz européia, como a americana. Teríamos que ter dado um salto cultural, mas não vejo nenhum traço disso ter ocorrido. Não posso explicar isso com detalhes aqui, para não espantar os leitores da revista, mas estou preparando um livro centrado numa descrição do homem brasileiro que pode tornar essa diferença entre nós e os homens da autodisciplina moderna e do individualismo contemporâneo mais clara. Pretendo que esse material receba o título de “Filosofia do Brasil” e seja publicado em 2015, a depender das negociações com as editoras. Também nesse caso, procuro empresários do ramo editorial. Ou seja, não pago para publicar.

Qual é o foco das suas pesquisas atualmente? O que hoje lhe instiga o pensamento e a escrita?

Continuo preocupado com a questão da relação entre a filosofia e o Brasil. Compreender o país pode nos auxiliar a desenvolver um pensamento mais pertinente. Isto é, um pensamento que possa ter algum impacto prático além dos currículos dos próprios autores. Quero dizer que a filosofia que temos feito até agora tem dialogado mais com a cultura européia do que com a nossa. Claro que estamos inseridos na ambiente mundial. Seria tolice tentar fechar a discussão sobre nós mesmos e substituir o umbigo filosófico do ocidente pelo Brasil. Porém estamos inseridos no contexto internacional segundo nossa própria maneira de ser. Ao contrário do que parece, não somos mais tão passivos – se é que já o fomos. Mesmo quando éramos indígenas, nunca fomos adeptos de conversões definitivas. Perceber essa inserção diferenciada no ambiente mundial é importante para a filosofia brasileira para abandonarmos desejos e projeções que não nos dizem respeito e nem possuem qualquer viabilidade prática nesse ambiente.

Darei um exemplo. Todo mês assisto nos telejornais comentários de economistas apontando os gargalos produtivos do Brasil. Em geral, um dos limites indicados é a baixa produtividade do brasileiro. Ora, o nosso trabalhador não é calvinista, não é disciplinado e não vê o trabalho como uma forma de redenção existencial. Então, os valores nos quais estamos mergulhados não propiciam uma vida de trabalho intenso e altamente produtivo – no sentido tradicional do ocidente. Reclamar disso é chover no molhado, é ser moralista – aquele que deseja um ideal que não se realizará porque não se articula com nosso modo de vida. Adotar um discurso pertinente significa reconhecer isso sem cair no extremo de pensar que há um caráter ou uma essência brasileira que justificam um modo de vida. Nós sempre podemos mudar, mas para mudar é preciso reconhecer que há um conjunto de elementos a partir dos quais se muda, um patamar inicial de onde se parte. Não somos europeus, não somos calvinistas. Desejar padrões de produtividade europeias e calvinistas é sonhar com um mundo que não se realizará nos próximos 200 anos.

Ronie ronieSilveira

Ronie Silveira é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Editou Possui interesse nas consequências culturais da democracia envolvendo os aspectos políticos, epistemológicos, éticos, educacionais, religiosos e estéticos.

roniefilosofia@gmail.com

 

Marcos Carvalho Lopes

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