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Pequeno, ou melhor, mínimo glossário (conjunto de citações) de Cornel West

Malcolm X - Negro da casa - legendado

-Sr. Malcolm X, por que ensina a supremacia negra? Por que ensina o ódio?

Um branco perguntar a um negro porque o odeia, é como o lobo perguntar a ovelha, o estuprador perguntar à violentada:”Você me odeia?”O branco não está em posição moral para acusar o negro de nada.

-Mas é um negro que faz a pergunta

– Que chamariam vocês a um negro com diploma de formação superior, doutorado e PHD? De negro, é como os brancos lhe chamam. É preciso entender o raciocínio. Para isso, é preciso saber que, historicamente,havia duas espécies de escravos: O negro de casa grande e o do campo. O negro da casa grande vivia junto do senhor,no porão ou no sótão da casa grande. Se vestia, comia muito bem, e amava o senhor. Amava mais o senhor que o senhor amava sí próprio.Se o senhor dizia: “Temos uma bela casa”. Ele respondia: “Sim senhor, temos mesmo”. Se a casa pegasse fogo, o negro da casa grande corria para apagar o fogo. Se o senhor adoecesse, ele dizia: “O que houve, estamos doentes?”. “Estamos doentes”, assim é como pensa o negro da casa grande. Se um escravo do campo lhe dissesse: “Vamos fugir deste senhor cruel”, ele respondia: “Por que? Tem coisa melhor do que temos aqui?Não saio daqui!”. Esse é o negro da casa grande. É o que lhe chamamos agora, porque ainda há muitos negros da casa grande.

(Do filme Malcolm X de Spike Lee)

 

 

Conversão Psíquica

Compromisso Socrático

“Diante das manipulações e mentiras da elite, devemos recorrer ao socratismo. O compromisso socrático de questionamento requer autoanálise implacável, assim como a crítica as instituições de autoridade, motivada por uma busca incessante da integridade intelectual e consistência moral. Fica manifesta num discurso intrépido (parrhesia) que perturba, desconcerta e retira as pessoas do sonambulismo sem sentido crítico. Como disse Sócrates na Apologia de Platão “Falar claramente [parrhesia] é a causa de minha impopularidade”

 

Perspectiva profética

Percepção tragicômica

 

 

Paidéia democrática

Porque entendo que não se pode falar seriamente sobre inovação, em qualquer sentido progressivo, sem um entendimento fundamental do papel da educação dentro da inovação. Agora, eu prefi ro usar a palavra grega paideia, voltando a Platão. Porque nós não estamos falando somente de educação na escola, habilidades e transmissão de conhecimento. Estamos falando sobre o cultivo do “eu”, sobre a maturação da alma que anda de mãos dadas com a democratização da sociedade. E nós voltamos ao livro 10 de A República, de Platão: o deslocamento da paideia de Homero, que era sobre o heroísmo militar, sobre a integridade pessoal como com Aquiles, e nós dizemos, não! Nós temos um novo modelo, um heroísmo fi losófi co com Sócrates, temos integridade intelectual, mas sabemos que ambos os modelos não têm nada a ver com a compaixão pelas pessoas comuns, o que signifi ca que não têm nada a ver com o legado de Jerusalém: nada a ver com Amos, nem com Jesus ou com Maomé.
Nós precisamos de uma paideia democrática. Precisamos repensar as noções de magnanimidade para que a nossa concepção de heroísmo tenha a ver com a vontade de nos sacrifi carmos, cultivando a nós mesmos, amadurecendo a alma, para o interesse comum e o bem público, não apenas no sentido militarista e Homérico. Nós precisamos construir sobre Sócrates e dizer: não poderá haver democratização da sociedade no nosso sistema educacional enquanto não dermos ênfase à coragem intelectual e moral, como Sócrates, mas também com a compaixão pelas pessoas comuns, encontrada nem em Homero ou Platão, nem em Aquiles ou Sócrates. Então, de onde vem isso? Vem de exemplos. Eu, pelo menos, penso que não é por acidente. Eu sei que, nos Estados Unidos, a história da educação americana é produzir estudantes bem ajustados à injustiça. Eles são espertos, eles são altamente capacitados, mas possuem, nas palavras do grande Rabino Abraham Joshua Heschel: “uma insensibilidade em relação à catástrofe”, que, segundo ele, era uma característica específica da educação moderna no mundo moderno. Existe uma indiferença aí. Então, quem se importa com uma pessoa altamente sofi sticada, com qualidades refi nadas, que está tão bem ajustada à injustiça, se estamos falando sobre como democratizar a sociedade?
É o que Paulo Freire estava falando, é o que Antonio Gramsci estava falando. Como podemos fazer nossa teoria da educação intrínseca à democratização da nossa sociedade, usando concepções de heroísmo, de magnanimidade e de compaixão pelos outros, especialmente os menos favorecidos, de tal maneira que possamos provocar a imaginação? De fato, nos Estados Unidos, a história das reformas e movimentos sociais tende a vir de pessoas que foram educadas em outros lugares. Algumas delas foram educadas na prisão, como Malcom X. Outras foram educadas nas ruas, como James Baldwin, o maior ensaísta da língua inglesa, que nunca foi à universidade, mas a universidade passou por ele.
E o que esses exemplos demonstram? Demonstram que deve haver outros lugares, outros espaços e não é por acidente que a maioria de nossos jovens, atualmente, são muito mais educados por músicas, fi lmes, vídeos, do que eles são nas escolas. Muito dessa cultura é ruim, parte dela é boa. Porque muitos desses educadores vieram das ruas, onde eles largaram a escola, como KRS-One, conhecido como “The Teacha” no hip hop. Por quê? Porque ele sabia que tinha um sistema de ensino que somente gerava pessoas bem ajustadas à injustiça, e ele tinha de ensinar a si próprio, juntamente com os seus parceiros. Agora, nós precisamos mais dessas pessoas proféticas. Mas o meu ponto é o seguinte: se não pudermos manter o rastro da coragem intelectual e moral, que é parte desses fluxos proféticos que devem fazer parte do sistema educacional democrático, nós nos tornaremos glorificadores das habilidades e espertezas, e perderemos de vista os ingredientes puros para qualquer projeto democrático: ou seja, a coragem intelectual e moral é a tentativa de ultrapassar essa insensibilidade à catástrofe, como as desigualdades, as classes dominantes, o sofrimento de nosso pessoal comum. E isso é o que existe no mundo, porque, e quero terminar com esta mensagem: novamente, nos Estados Unidos, nós temos os mais sofi sticados estudantes e professores que são tão bem ajustados à supremacia masculina e à supremacia branca, que vocês não poderiam nem imaginar que estes são problemas! E se nós tivéssemos de depender dos sistemas de educação e das universidades que aceitam a supremacia masculina e a supremacia branca, os americanos ainda estariam vivendo sob as leis de Jim Crow. Porque as universidades não estavam na vanguarda, o sistema educacional não era de vanguarda, de fato eles eram frequentemente obstáculos e impedimentos. E mesmo minha querida Universidade de Princeton – podemos dizer a mesma coisa sobre Columbia ou sobre Harvard, lugares magnífi cos, mas se você quisesse ajustar tais lugares para permitir a entrada de mulheres, era permitida apenas a entrada masculina. Foi um movimento de mulheres de fora que pôs pressão sobre essas grandes instituições. E isso também é verdade em termos de escolas de ensino médio e aí por diante. Então, quando pensamos sobre formas de educação democráticas para apenas construir a partir do que o irmão [Roberto Mangabeira] Unger estava dizendo, como podemos acentuar noções de coragem moral e intelectual, noções de magnanimidade, compaixão por outros, juntamente com os questionamentos socráticos, juntamente com um profundo comprometimento, ao bem comum e ao interesse público, e, o mais importante para mim, ao tipo de autocrítica que caminha lado a lado com qualquer projeto educacional democrático.

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