[Este texto, publicado em 12 de maio de 2023 aqui, pode ser visto como uma sinalização ambígua e problemática de Cornel West, que defende o posicionamento do governador da Flórida, Ron DeSantis (que provavelmente será seu adversário na campanha presidencial), de adotar na seleção de bolsas para estudantes (Vestibular) um teste que promete valorizar o conhecimento dos clássicos. O texto é assinado por West, junto como o presidente da fundação que aplica o Teste de Aprendizagem Clássico (CLT). Com a celebração “dos Clássicos”, avança a ideia de um “currículo cristão clássico”. Nada mais datado que a frase final do texto da “atemporalidade” da educação clássica. Sinal de alerta sobre os perigos do nosso tempo de uso fundamentalista religioso da ideia de tradição. De Santis não tem o mesmo objetivo de West. Veja as notas ao fim da versão do texto (para fins didáticos, feita por tradutor automático, a parir do texto disponibilizado aqui)] O governador Ron DeSantis acaba de dar um impulso bem-vindo ao movimento de educação clássica. Ele assinou uma lei que permite que os alunos do ensino médio se qualifiquem para as bolsas de estudo Bright Futures, um fundo estadual para educação universitária, apresentando as pontuações do Teste de
Aprendizagem Clássico (Classic Learning Test – CLT)[2] em vez de apenas o SAT[3]. Essa medida provavelmente será retratada, erroneamente, como partidária e conservadora. Mas as maiores obras da civilização sempre tiveram como objetivo estimular – e não impedir – mudanças radicais. Elas nos ensinam sobre as ideias revolucionárias do passado e nos ajudam a entender melhor o presente. As ideias mais ricas sobre o que significa ser humano são aquelas que resistiram ao teste do tempo. Muitas das obras seminais da literatura, história, filosofia, ciência e teologia foram revolucionárias em suas respectivas épocas. Vire as páginas de “Duas Novas Ciências” de Galileu Galilei e você verá a alteração da visão que a humanidade tem de si mesma em relação aos céus. Ao refutar a crença então comum de que os planetas giravam em torno da Terra e não do sol, Galileu lançou as bases da ciência moderna. Isaac Newton, por sua vez, acabou com o que restava das superstições científicas do Velho Mundo – apenas para ser superado dois séculos depois pela “Relatividade” de Albert Einstein. Assim como as ideias revolucionárias de hoje, as ideias de ontem eram provocativas e, em muitos casos, muito mais consequentes. Galileu foi levado a julgamento porque perturbou o status quo. No século XIII, o bispo Stephen Tempier, de Paris, condenou as principais obras do teólogo Tomás de Aquino por serem
radicais demais. O dissidente soviético Alexander Solzhenitsyn e o ativista dos direitos civis Martin Luther King Jr. foram presos por suas opiniões. Na América colonial, James Madison e seus coautores temiam imprimir seus nomes nos Federalist Papers (Documentos Federalistas), por isso se esconderam sob
pseudônimos. Até mesmo os filósofos mais brandos causaram problemas por pensarem contra a corrente. Platão viu seu grande professor Sócrates ser condenado à morte por seus ensinamentos. As figuras revolucionárias do passado nos dão uma visão do presente e permitem a reflexão sobre as consequências de suas escolhas. Júlio César, um dos líderes mais conhecidos da antiguidade, nos ensina o custo da revolução por meio de suas histórias. Ao entrar em Roma com seus exércitos, ele acabou com a república e criou o Império Romano, um crime pelo qual pagou com a própria vida. Mas em suas descrições em primeira mão das táticas muitas vezes brutais que empregou para conseguir a transformação política, ele nos legou uma percepção profunda. A prosa direta e simples de César transmite a realidade de ir à guerra – tudo sem referência a conflitos contemporâneos. Essa é uma das virtudes dos clássicos: Eles são um meio de considerar o que é verdadeiro sem invocar o partidarismo cego que incentiva a ação impensada. Não há nada de que precisemos mais hoje do que o cultivo da razão e da compreensão. É por isso que o apoio do Sr. DeSantis à educação clássica tem um mérito universal que transcende o partidarismo. A educação baseada em valores, lógica e disciplina não é republicana – é atemporal. Cornel West ocupa uma cadeira no Union Theological Seminary e atua no conselho de consultores acadêmicos do Classic Learning Test. Jeremy WayneTate é fundador e CEO do Classic Learning Test.
[1] Atual governador da Flórida, Ronald DeSantis ficou conhecido por adotar medidas pouco restritivas durante o período da pandemia de COVID-19. DeSantis seguiu uma abordagem semelhante à de Trump, buscando reabrir a economia da Flórida o mais rápido possível e se opôs a medidas de lockdown mais rigorosas. Também apoiou o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, apesar das evidências
científicas limitadas sobre sua eficácia no tratamento da doença. Além disso, DeSantis tem sido mencionado como um possível candidato presidencial republicano para as eleições de 2024.
[2] Um dos criadores do CLT, Mark
Bauerlein, assim descreve o Teste de Aprendizagem Clássico (CLT) “um vestibular que testa o raciocínio verbal e quantitativo. Ajudei a desenvolver o projeto em 2015 (...) O CLT se assemelha a outros testes padronizados, exceto que divide a área de raciocínio verbal (que outros testes tratam como una) em quatro subáreas: Filosofia/Religião, Ciências Naturais, Literatura e Documentos Históricos/Fundamentais. Essas áreas refletem o conteúdo de um currículo cristão clássico”. (https://www.firstthings.com/web-exclusives/2017/07/a-test-for-classical-christian-students)
(Destaque meu). Argumentando sobre as vantagens do CLT, Bauerlein afirma que ele não é neutro e toca
questões espinhosas e moralmente densas, substitui questões sobre interpretação de literatura moderna, por debates teológicos baseados em textos como o de Santo Agostinho.
[3] Em inglês, a sigla SAT significa "Scholastic Assessment Test" ou, em tradução livre para o português, "Teste de Avaliação Escolar". O SAT é um exame padronizado amplamente utilizado nos Estados Unidos como parte do processo de admissão em faculdades e universidades. Ele avalia as habilidades dos estudantes em áreas como leitura, escrita e matemática, e é frequentemente utilizado como um critério importante para a seleção de candidatos para o ensino superior.
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[Este texto, publicado em 12 de maio de 2023 aqui, pode ser visto como uma sinalização ambígua e problemática de Cornel West, que defende o posicionamento do governador da Flórida, Ron DeSantis (que provavelmente será seu adversário na campanha presidencial), de adotar na seleção de bolsas para estudantes (Vestibular) um teste que promete valorizar o conhecimento dos clássicos. O texto é assinado por West, junto como o presidente da fundação que aplica o Teste de Aprendizagem Clássico (CLT). Com a celebração “dos Clássicos”, avança a ideia de um “currículo cristão clássico”. Nada mais datado que a frase final do texto da “atemporalidade” da educação clássica. Sinal de alerta sobre os perigos do nosso tempo de uso fundamentalista religioso da ideia de tradição. De Santis não tem o mesmo objetivo de West. Veja as notas ao fim da versão do texto (para fins didáticos, feita por tradutor automático, a parir do texto disponibilizado aqui)] O governador Ron DeSantis acaba de dar um impulso bem-vindo ao movimento de educação clássica. Ele assinou uma lei que permite que os alunos do ensino médio se qualifiquem para as bolsas de estudo Bright Futures, um fundo estadual para educação universitária, apresentando as pontuações do Teste de
Aprendizagem Clássico (Classic Learning Test – CLT)[2] em vez de apenas o SAT[3]. Essa medida provavelmente será retratada, erroneamente, como partidária e conservadora. Mas as maiores obras da civilização sempre tiveram como objetivo estimular – e não impedir – mudanças radicais. Elas nos ensinam sobre as ideias revolucionárias do passado e nos ajudam a entender melhor o presente. As ideias mais ricas sobre o que significa ser humano são aquelas que resistiram ao teste do tempo. Muitas das obras seminais da literatura, história, filosofia, ciência e teologia foram revolucionárias em suas respectivas épocas. Vire as páginas de “Duas Novas Ciências” de Galileu Galilei e você verá a alteração da visão que a humanidade tem de si mesma em relação aos céus. Ao refutar a crença então comum de que os planetas giravam em torno da Terra e não do sol, Galileu lançou as bases da ciência moderna. Isaac Newton, por sua vez, acabou com o que restava das superstições científicas do Velho Mundo – apenas para ser superado dois séculos depois pela “Relatividade” de Albert Einstein. Assim como as ideias revolucionárias de hoje, as ideias de ontem eram provocativas e, em muitos casos, muito mais consequentes. Galileu foi levado a julgamento porque perturbou o status quo. No século XIII, o bispo Stephen Tempier, de Paris, condenou as principais obras do teólogo Tomás de Aquino por serem
radicais demais. O dissidente soviético Alexander Solzhenitsyn e o ativista dos direitos civis Martin Luther King Jr. foram presos por suas opiniões. Na América colonial, James Madison e seus coautores temiam imprimir seus nomes nos Federalist Papers (Documentos Federalistas), por isso se esconderam sob
pseudônimos. Até mesmo os filósofos mais brandos causaram problemas por pensarem contra a corrente. Platão viu seu grande professor Sócrates ser condenado à morte por seus ensinamentos. As figuras revolucionárias do passado nos dão uma visão do presente e permitem a reflexão sobre as consequências de suas escolhas. Júlio César, um dos líderes mais conhecidos da antiguidade, nos ensina o custo da revolução por meio de suas histórias. Ao entrar em Roma com seus exércitos, ele acabou com a república e criou o Império Romano, um crime pelo qual pagou com a própria vida. Mas em suas descrições em primeira mão das táticas muitas vezes brutais que empregou para conseguir a transformação política, ele nos legou uma percepção profunda. A prosa direta e simples de César transmite a realidade de ir à guerra – tudo sem referência a conflitos contemporâneos. Essa é uma das virtudes dos clássicos: Eles são um meio de considerar o que é verdadeiro sem invocar o partidarismo cego que incentiva a ação impensada. Não há nada de que precisemos mais hoje do que o cultivo da razão e da compreensão. É por isso que o apoio do Sr. DeSantis à educação clássica tem um mérito universal que transcende o partidarismo. A educação baseada em valores, lógica e disciplina não é republicana – é atemporal. Cornel West ocupa uma cadeira no Union Theological Seminary e atua no conselho de consultores acadêmicos do Classic Learning Test. Jeremy Wayne Tate é fundador e CEO do Classic Learning Test.
