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COMO SER UM AFRICANO (Binyavanga Wainaina)

Morreu hoje o escritor e ativista LGBT queniano BINYAVANGA WAINAINA que ganhou notoriedade com o seu texto “Como escrever sobre África” . Em português a editora Kapulana traduziu seu livro de memórias Um dia vou escrever sobre este lugar. Wainaina é uma referência incontornável para quem quiser pensar identidades africanas que respeitem a diversidade. Critico do afropolitanismo, que considerava uma moda comercial, Wainaina se dizia panafricanista. Desvelar o que é e como se justifica seu panafricanismo é algo que a leitura de seus livro deixa entrever. Esse texto é uma tentativa de tradução como homenagem para este pensador original, polêmico e intenso.

Uma amostra de parte da reunião da Associação do Brooklyn de Buscadores e pensadores e rainhas pan-africanos (PANAFRISTQ)

PAINEL II, apresentação, ministrada pelo Professor Brother (MC) Uhuru

Meus irmãos e irmãs.

Todos sabemos que Leão era um africano, não é mesmo? Assim foram Tut, Cleo e Janis Joplin. O Rock and Roll veio de Bamako.

Meus irmãos, eu conduzo vocês ao debate, realizado no verão passado em Boston, sobre se Um Grão de Trigo é um título eurocêntrico? Por que não Um grão de Sorgo? Ou Um Grão de Milho? Mas o irmão Ashanti apresentou um argumento válido, de que o trigo é egípcio. E no Egito o trigo era preto.

Pois a tradução do símbolo egípcio antigo para o trigo é “grão negro que nos nutre”.

Nós aqui sabemos que tudo começou com a cabaça real. Nos tempos antigos, a cabaça tornou-se a bandeja, o pires, o prato, e, finalmente, o recipiente Tupperware, que vem da Guiné-Bissau, e até hoje as mulheres falam disso quando dizem: Oh! Vá e compre alguns recipientes Tupperware do mercado, daquele com selo top de sucção, como nossos ancestrais amavam. Nós inventamos a garrafa de vinho – olhem a cabaça utilizada pelos povos Gikuyu – usada para armazenar vinho de milho.  Meus irmãos e irmãs, nós descendemos de grandes pessoas – vejam como as rainhas da antiguidade europeia usavam perucas afro; pulverizadas de branco como a de nossos antigos anciões e xamãs africanos.

Meus filhos e filhas, as doze tribos de Israel são: Igbo, Amhara, Kalenjin, Masai, Baganda, Venda, Masai, o Suaíli (em suaíli Juu significa para cima – que provém dos nossos povos apontando para cima, para Israel, de onde veio o Juus, o Juus real). Os Kalenjin ainda falam uma antiga forma de hebraico. Os tutsis eram antigos fenícios e gregos. Não, não. Desculpe. Os gregos e fenícios antigos eram tutsis.

O nariz da Esfinge foi cortado para nos irritar.

Os anciões Luo tinham as mesmas barbas pontudas do rei Tut.

Você já ouviu falar do Black Irish?

Jesus era africano, você sabe.

Nós inventamos o café.

Todos nós somos descendentes de reis e rainhas. Todos nós usamos kaftans de ouro e lenços de cabeça de Erykah Badu. A África não tinha camponeses. O pai de Pushkin era dos Camarões. A mãe de Alexandre Dumas era uma mulher negra da Martinica. (Ela não chamava a si mesma de negra, mas o que importa e que ela sabia).

Meus irmãos e irmãs, precisamos conversar sobre Angelina Jolie. Olhe para a sintaxe dos lábios, a linguística das adoções; observe o arranjo gramatical da canga, o nariz de Nefertiti. Ela é africana.

Todas essas informações podem ser encontradas na Biblioteca Africana de Alexandria, que foi incendiada.

Meu filho, minha filha, salve-se a si mesmo através desses talvezes; estes quase tornam-se. Crie departamentos universitários inteiros de replicantes. Tome posse de todos os impérios.

Agora meus irmãos, um Dr. Brace, da Universidade de Michigan, nos diz que núbios e egípcios não eram negros africanos. Ele diz que eles tinham peles negras e crânios dinamarqueses – e estes, inclusive, eram os crânios que deram origem aos europeus. Dizem-nos que a pele deles “em algum momento se adaptou aos rigores severos do sol tropical”.

Eles vão encontrar um ariano em uma unha.

O professor Kwame Tut e o Dr. Nefertiti Dakar concordaram em elaborar uma estratégia para combater isso, e no nosso próximo encontro, novamente no Kenteccino Chipotle Coffee Bar, no Brooklyn, discutiremos isso mais adiante.

Agora, vamos fazer uma pausa e ouvir as belas palavras de Ashanti Nkrumah, um cantor de louvor e profesia.

Douglas Cushing. L’historie de l’art occidental (2006 )

Ashanti: Todo mundo diz Mamaaaaaa

Todos: Mamaaaaaaa

Ashanti: todo mundo diz

Africaaaaaaaaaaaaaa

Todos: Africaaaaaaaaaaa

Ashanti: OK, quando eu levanto minha mão em louvor, irmãos, irmãs, xamãs e anciãos, eu quero que todos digam, Mamaaaaa

Africaaaaaa

Todos: Mamaaaaa Africaaaaaa

Ashanti:

Eu sou uma rainha nubiana

Deusa sex da ostentação

Cavalgo

Todos: Mamaaaaa Africaaaaaa

Ashanti:

Meu esconderijo

Meu couro preto

Cavalgo

Todos: Mamaaaaa Africaaaaaa

Ashanti:

Indo para Bamako

Tocar meu blues

Em Cotonou

Todos: Mamaaaaa Africaaaaaa

Ashanti:

Ligue para os anSISTERS

Você DEUS, garota

Todos: Mamaaaaa Africaaaaaa

Professor Brother (MC) Uhuru: Vamos aplaudir Ashanti e Mamaaaaa Africaaaaaa !!!

Agora, vamos ter uma pausa para um Kenteccino antes de ouvirmos o rap do irmão Kente dia Kente algum espírito Bamako de seu novo álbum, O espírito núbio dos gritos de Bamako. Depois disso, nosso irmão Dr. George Hannington Kibwana fara uma palestra sobre a literatura oral dos Maragoli.

Fonte: https://muse.jhu.edu/article/241609/pdf

Marcos Carvalho Lopes

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