Curativo Hip-Hop
Por que um professor universitário grooves.
Cornel West
“O blues é o uma forma elegante de enfrentar a catástrofe que produz graça e dignidade, fazendo com que o espírito de resistência nunca se extiga completamente”. Cornel West
O reitor não comprrende facilmente o conceito de professor universitário como bluesman. O intelectual acadêmico como bluesman é outra noção que não é engolida facilmente pelos poderes constituídos. Como seria a de um professor que grava um disco de hip-hop? Poucas administrações universitárias aplaudiriam tal movimento. Como regra geral, as administrações universitárias gostam de professores contidos. Eles ficam confortáveis, com definições estritas e limites apertados quando se trata da postura pública de membros do corpo docente.
Eu sempre vi isso de outra maneira. Acredito em estudos especializados. Acredito na dedicação de cada qual a um campo especifico de estudos. Produzi o meu quinhão de escrita acadêmica. A Evasão americana da filosofia: uma genealogia do pragmatismo, um livro que escrevi em 1989, foi um trabalho deste tipo. Mantendo a fé, de 1993, foi outro. Mas isso nunca foi suficiente para mim. Se tiver que dizer o que há de errado com o mundo em que eu vivo, vou cantar o blues que mexe com a parte mais profunda da minha alma, por isso preciso seguir o exemplo do bluesman. Eu tenho que chegar lá. Eu tenho que cantar na frente de grupos de pessoas – em escolas e igrejas, nas prisões e nas ruas, na TV, nas gravações, no iTunes e iPods – porque a mensagem do blues é universal – universalmente verdadeira e universalmente regeneradora.
A mensagem do blues é real, a mensagem de blues é a dor, e a dor é real como a chuva. Quando o blues deu lugar ao rhythm-and–blues e este rhythm-and–blues, ao hip-hop, eu não fiquei desanimado com as mudanças. Enxerguei todos como sendo ramos de uma mesma árvore. Essa árvore tem raízes profundas no solo da história. Eu gostei da ideia do desenvolvimento destes ramos. Junto com Mike Dailey, Derek Allen, e meu irmão Cliff, escrevi um [álbum de] hip-hop/ [com a] gravação de palavras recitadas, que, em muitos aspectos, era um instrumento de ensino. As canções eram sérias. Dirigiam-se ao nosso passado, nosso futuro e a nossa condição atual. As batidas eram tão fortes quanto a mensagem. Eu amei estar no estúdio e trabalhar com os grooves. Eu vi a operação como parte do impulso radicalmente democrático e tragicômico de dizer a verdade que vem diretamente das raízes do blues.
Vejo meu papel como educador, como alguém que sente uma vocação tanto socrática quanto profética, para implementar o que Nietzsche chamou de uma paideia cantada. (Paideia é a educação profunda que nos informa e transforma, trocando a ostentação (bling bling) pela procura pela sabedoria.) Eu sou sempre obrigado a lembrar que a paideia corresponde a uma formação insondável em que o auto-exame e o serviço aos outros produz amadurecimento, tornando a pessoa compassiva e disposta a falar, viver e se sacrificar pela verdade.
Vejo o hip-hop, como parte de um movimento ligado a uma educação dançante, ensinando que prazer e instrução podem vir juntos. Eu sei que eu não sou um rapper como KRS-One, que tem sido leitura em minhas aulas durante anos. Certamente não sou um cantor mais do que sou um pregador. Mas, de alguma maneira, se eu puder ajudar à trazer a consciência social de um Curtis Mayfield ou de uma Nina Simone através do hip-hop, se eu posso chegar a um jovem com uma mensagem incorporada em um som que mexe com a sua alma, então eu não trabalhei em vão. Meu ponto de referência como educador é vinculado a uma poderosa missão: inquietar mentes e motivar corações para que se esforcem na direção do bem.
O hip-hop é um jogo jovem. Alguns podem perguntar: “Porque é que este velho tolo gravou um CD de hip-hop?” Minha resposta é que a geração dos Dramatics e dos O’Jays pode – e deve oferecer – seus conhecimentos para a cultura atual. Eu acredito que existe uma continuidade, e não um conflito ou uma contradição, mas, na linguagem do rap, um fluxo contínuo entre uma geração e outra. Os anos 60 e 70 de Sly Stone e Stevie Wonder são mais pertinentes e atraentes do que nunca. Conecte-os com o que está acontecendo hoje e você tem uma fusão, uma espécie de híbrido, que olha para trás e para frente ao mesmo tempo. É uma coisa bonita.
Tentativa de tradução de http://www.healyourlife.com/hip-hop-heals