
Como a Filosofia africana pode ser definida?
Apresenta as possibilidades da definição a partir da tripartição: etnofilosofias (Placide Tempels, Leopold Senghor, Alexis Kagame), universalistas (Kwasi Wiredu, Paulin Hountondji, Henry Odera Oruka) e hermeneuticas (Tsenay Serequeberhan, Marcien Towa, Okanda Okolo).
A etnofilosofia é realmente filosofia?
apresenta e avalia as contribuições da historiografia de Anta Diop, da etnografia religiosa de Mbiti, da cosmologia de Marcel Griaule/Ogotemmeli, criticando em todos elas o apela para uma espécie de essencialismo, voltado para o passado, acrítico em sua apreensão da cultura oral, não atendendo a questionamentos atuais (de liberação política, social e cultural, feminina etc.) e dos parâmetros de discurso europeus.
A filosofia africana é única?
Revisita Tempels, um discurso positivo sobre a univocidade da filosofia africana na negritude de Senghor e sua crítica em Paulin Houtondji e um meio termo em Appiah.
Qual seria a(s) linguagem/linguagens da filosofia africana?
A memoria oral, o conflito oral-escrito, as línguas africanas ou as línguas dos colonizadores?
Existem conexões entre filosofia africana, afro-americana e feminista?
Imbo mostra a convergência de interesses entre a filosofia africana, a filosofia afro-americana e o feminismo no questionamento dos padrões da filosofia ocidental
A primeira parte do livro “Definições de filosofia africana”, se prende a primeira pergunta; a parte dois, “Etnofilosofia e seus críticos” aborda a segunda e a terceira perguntas; e as duas últimas interrogações são tema da terceira e última parte do livro, “A filosofia africana fazendo conexões”.Para cada questão Imbo desenvolve um capítulo, que, se por vezes precisa ser reducionista, oferece as indicações bibliográficas para que o especialista se aprofunde e questões de estudo para guiar a leitura do iniciante.
O livro de Imbo é corajoso por desenvolver a oposição entre etnofilosofia e filosofia africana em termos semelhantes ao da oposição entre sofistica e filosofia: “Vincular etnofilósofos, tais como Tempels, Kagame e Senghor, com sofistas, como Protágoras, Górgias e Hípias é inevitavelmente soar para alguns leitores como algo bizarro. Eu não quero dizer que aqueles etnofilósofos constroem somente argumentos retóricos tais como os sofistas eram acusados de fazer. Nem serve a comparação para retratar os etnofilósofos como habilidosos manipuladores da linguagem que tentariam fazer o pior argumento aparecer como o melhor. O que eu quero focar com essa comparação é o conotação pejorativa do ataque a ambos, “sofistas” e “etnofilósofos”. As semelhanças estão na conotação negativa a que são confinados por seus oponentes. De fato, o apelido “etnofilósofo” é algo como um insulto, porque ser um etnofilósofo é ser visto pelos filósofos universalistas como se estes praticassem a filosofia de uma maneira que desvia da forma convencional” (p.54). A etnofilosofia seria o Outro da Filosofia, tomada em sentido universal, tradicional. Na filosofia africana teríamos a orientação etnofilosófica como à busca por descrições da africanidade, pressuposições de uma essência africana a-histórica e unanimista que poderia ser decantadas a partir dos saberes e religiosidades tradicionais; já seus críticos, defenderiam as perspectivas e padrões profissionais da filosofia ocidental, renegando a possibilidade de tomar concepções coletivas e orais como filosóficas, sem colocar em questão sua perspectiva européia e reivindicação de universalidade. A construção de uma oposição “maniqueísta” abre espaço para uma terceira opção, que desenvolve, tanto uma crítica aos extremos pressupostos pelas outras vertentes, quanto uma aproximação melhorista em diálogo com o saber tradicional, o que Imbo chama de “orientação hermenêutica”.
O livro de Imbo funciona bem como um manual e neste funcionamento está seu defeito: o reducionismo didático necessário tende a proporcionar uma aparência de consenso que está longe de ser justificada. O livro de Masolo, African Philosophy in search of identity, mantém uma abordagem mais ampla e cuidadosa. Tanto Imbo quanto Masolo não avaliam o legado político dos “reis filósofos africanos” dentro do processo de descolonização, mas o último aborda problemas epistemológicos e a própria construção da ideia de África (com Eboussi Boulaga, Mudimbe e Towa). Wiredu continua justificado ao afirmar que na filosofia africana existe mais para se pesquisar do que para ensinar. Cabe complementar: e isso é bom!
Para saber mais: Tratamos dessas questões no #076- episódio do podcast filosofia pop; este mesmo episódio foi transcrito e numa versão preliminar com notas está disponível para download aqui.
