Olhando dentro de nós mesmos e trabalhando os corações sombrios de nossa porcaria colonial.
Eu sou um queniano Gujarathi. Nunca, jamais, critiquei os quenianos Gujrathis. Eu sou um africano ioruba. Os africanos iorubás nunca fizeram qualquer coisa ruim. Nenhum. Eu sou um africano igbo. Não posso compartilhar em público minha verdadeira raiva dos líderes políticos Igbo. Sou um intelectual africano que se cala quando meu rei fala merdas sobre genocídio. Eu sou um Gikuyu. Somos anjos, anjos! Vítimas de todos.
Na verdade, todo mundo está fodido. Sou um sul-africano branco – não tenho nada a reconsiderar – se me perguntar se tenho, emigrarei. E de alguma forma todos nós acreditamos coletivamente que nossos intelectuais e escritores estarão na vanguarda, sendo capazes de olhar para dentro de nós mesmos e trabalhar os corações sombrios de nossa porcaria colonial.
Eu sou um autor branco norte-americano com poder. Se vocês, escritores norte-americanos morenos, não fazem fila atrás de nossa opinião singular sobre o Charlie Hebdo – não são cidadãos leais e os poderes estão vigiando vocês. Sou um negro sul-africano – todos vocês são o motivo para eu estar fodido. Não era o apartheid. Foi você. Eu sou um africano da Tanzânia. Os quenianos são bestas trabalhando muito para nos prejudicar. Preferimos trabalhar para agricultores Afrikaners – para quem, a propósito, entregamos grandes extensões de terra. Tudo isso é o que anima muito o nosso Facebook.
BINYAVANGA WAINAINA nasceu em Nakuru, Quênia, em 18 de janeiro de 1971. Faleceu em 21 de maio de 2019, em Nairobi, Quênia. Escritor, jornalista, ativista político, ganhou em 2002 o Caine Prize for African Writing. Em 2014, a revista Time o incluiu a lista anual das 100 pessoas mais influentes do mundo (TIME 100). Homossexual, panafricanista (mas não afropolitanista), ganhou notoriedade quando seu texto “Como escrever sobre África” viralizou em emails e redes socais.
Texto original em: https://africasacountry.com/2015/05/we-are-angels-victims-of-everybody