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Criminalização das drogas e racismo

Em várias oportunidades tenho dito que o que mais me impactou, desde criança, era a miséria, a pobreza, a desigualdade e o sofrimento da maioria das pessoas como consequência disso. Em países como os nossos, esses assuntos assumem, diríamos, certa coloração. Para dizê-lo de outro modo: a cor da pele está atrelada a isso tudo. É que, nos “nossos” países, e os não tão “nossos”, como nos Estados Unidos, os mais pobres são índios ou negros.

   Mesmo que o mundo em que estou inserido fosse de só brancos, ou só índios ou só negros, seria contra a criminalização das drogas. Por vários motivos. Entre eles, todos os citados no relatório das Nações Unidas, publicado no ano passado e apoiado por diversas personalidades internacionais, presidentes e ex-presidentes de Estado entre elas. Para citar algumas: o fracasso, nas últimas décadas, do combate ao consumo de drogas e o consequente crescimento e fortalecimento do crime organizado. Como muitas dessas personalidades sentenciam, numa frase: a guerra contra o crime organizado e o consumo de drogas fracassou. É, de fato, uma guerra perdida. Por um lado, por outro, existe o fato de a produção, comercialização e venda de bebidas alcoólicas não só não ser um crime, como seu consumo estar rodeado de certo charme e toque de distinção, como querem mostrar as propagandas de uísque, vinho, vodka, rum e outras bebidas. Apesar de o consumo de álcool, comprovadamente, ser tão nocivo — e tão mais prejudicial que o da maconha, por exemplo.

   No artigo anterior me referia a um dado que é mesmo surpreendente: apesar de os Estados Unidos representarem apenas 5% da população mundial, seus cárceres aprisionam 25% dos detentos do planeta. Muitos deles por estarem ligados ao consumo ou ao tráfico de drogas e, dentre eles, a maioria ser de negros ou hispânicos. O fato é que as populações mais pobres estão mais sujeitas à delinquência, e maior parte dos mais pobres são negros, índios, mestiços ou, como nos Estados Unidos, hispânicos. 

   Desde esta última quinta-feira (dia 26), na cidade de Washington já é legal o uso recreativo da maconha e se está considerando regulamentar sua distribuição e venda, como nos estados de Colorado e Washington. Na mesma semana passada, o uso recreativo da maconha já é legal, também, no Alaska.

   Enquanto nada seja feito, a desproporção enorme entre negros e brancos nas prisões seguirá se aprofundando. E assim, nos “nossos” e não tão “nossos” países, ser negro e pobre continuará sendo meio caminho andado para ser considerado um criminoso cujo fim é ser levado àquilo em que as prisões se converteram: em depósitos de negros e pobres sem esperanças de ser tratados nelas como outra coisa que não como animais infestados que merecem mesmo ter a vida miserável que essas prisões oferecem. 


José Gonzalo Armijos Palacios - Possui graduação e doutorado em Filosofia pela Pontificia Universidad Católica Del Ecuador (1978 e 1982, respectivamente) e doutorado em Filosofia pela Indiana University (1989). Realizaou estudos de pós-doutorado na Indiana University em 1996 e 1997. Desde1992 é professor titular da Universidade Federal de Goiás.

Marcos Carvalho Lopes

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