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Filosofia africana da educação: uma flecha poderosa no arco das universidades (Yusef Waghid)

Para entender o que é uma filosofia africana da educação e por que é tão importante, considere o papel que as universidades devem desempenhar em qualquer sociedade.

As universidades, onde quer que estejam, devem ser lugares onde o conhecimento é internalizado, questionado e considerado. Esse conhecimento deve corresponder ao contexto social, político e econômico particular de uma universidade. A obtenção desse conhecimento se dá em busca do desenvolvimento humano. O que seria uma universidade se seu único propósito fosse produzir conhecimento sem considerar seus efeitos na sociedade e em seu povo?

Mas talvez seja precisamente essa disjunção – entre o que as universidades pretendem fazer e o que acontece na sociedade – que começa a explicar porque o conhecimento na África se tornou tão mal colocado. Isso aconteceu em vários estados árabes e muçulmanos, onde algumas universidades parecem relutantes em encorajar o aprendizado crítico. O conhecimento produzido nessas universidades não atende às preocupações do público, sejam estas políticas, econômicas, sociais ou culturais.

O conhecimento africano não pode ser considerado apenas para fins acadêmicos. Deve-se também ter em mente porque e como esse conhecimento deve afetar a sociedade. É por isso que uma filosofia africana de educação pode ser uma ferramenta tão poderosa para as universidades pós-coloniais do continente, ao trabalharem para se tornarem produtoras de conhecimento de interesse público. Isso é particularmente importante para as universidades africanas. Os cidadãos do continente devem ser iniciados em maneiras de ser e viver que enfatizem a cooperação humana, a abertura ao debate e a discussão e a responsabilidade mútua.

Muitas das ditaduras políticas do continente poderiam ser evitadas se os cidadãos fossem encorajados a questionar e discordar.

Procura por significados

Simplificando, uma filosofia africana da educação é uma forma de fazer perguntas sobre a educação na África. Permite que estudantes da educação busquem significados que se relacionam com o campo escolhido.

Uma filosofia africana da educação oferece um discurso para abordar os muitos problemas do continente. Isso inclui falta de alimentos, subnutrição, pobreza, abuso, violência e exclusão do outro. Um dos dilemas mais comuns e importantes da África oferece uma maneira útil de ilustrar a abordagem que estou descrevendo: a prevalência de ditaduras militares . Um estudante de filosofia da educação africana perguntaria como o governo militar afeta a educação. Como a educação, por sua vez, pode lidar com as restrições de uma ameaça militar?

Quando os militares estão no comando, espera-se que as instituições de ensino de um país sigam seu direcionamento. Coerção e controle estão na ordem do dia. Não há espaço para dissidência e engajamento democrático. Como uma universidade africana deve reagir – se é que deve reagir – a uma sociedade que está sob regime militar? Quando estudantes são ensinados a deliberar – a responder aos outros e ouvi-los – seriam praticantes sérios de uma filosofia africana da educação. Esses estudantes não apenas se envolveriam voluntariamente com os outros e suas diferenças, mas também estariam preparados para ouvir opiniões divergentes.

Mas adotar uma filosofia africana da educação não é apenas analisar os problemas do continente. Em vez disso, estudantes passarão a imaginar como esses problemas poderiam ser resolvidos, considerando a educação como um possível agente. Consequentemente, precisarão examinar o que o problema e sua solução podem implicar para a educação.

Teoria versus prática

Como em outros lugares, a ideia de fazer ou praticar uma filosofia africana da educação está conectada a estabelecer uma ponte entre a pseudo-dicotomia entre teoria e prática. Alguns podem alegar que a filosofia africana é apenas um ato de teorização. Eles estão errados. Na verdade, ela é incorporada como energia e impulso para mudar situações e condições indesejáveis.

Em qualquer caso, não há separação entre teoria e prática. Não se pode desvincular o pensamento do agir sobre os acontecimentos na sociedade. Qualquer boa teoria sobre educação deve afetar as práticas educacionais de forma positiva. O que constitui uma teoria positiva da educação? Na minha opinião, a resposta está nas práticas que ganham forma por meio do pensamento autônomo, do engajamento e da liberdade tornados visíveis por meio da deliberação. Desta forma, teoria e prática estão interligadas.

Uma filosofia africana da educação também permite que os inquiridos vejam como as práticas educacionais – ensino, aprendizagem, gestão e administração de universidades no continente – podem se fazer realidade.

Infelizmente, só raramente em muitas das universidades africanas hoje se ensina qualquer filosofia de educação. A filosofia da educação é erroneamente percebida como um exercício abstrato da mente que não está conectado a questões da vida real. As instituições africanas de ensino superior devem tentar mudar isso.

Qualquer universidade que deseja aumentar o seu status como produtora de conhecimento deve responder às reinvindicações de conhecimento. É aqui que a ideia de uma filosofia africana da educação pode se tornar tão importante. É um elemento crucial para aumentar a autonomia e a liberdade associadas ao ensino e aprendizagem universitários.

Lidando com a injustiça

A outra característica fundamental de uma filosofia africana da educação é que ela é invariavelmente voltada para lidar com as injustiças e desigualdades do continente. Uma educação universitária que é guiada pela preocupação com a justiça educacional – defendendo a liberdade, autonomia, engajamento democrático e capacidade de resposta ao outro – leva a filosofia africana da educação a sério.

As preocupações da África em ir além de sua submissão à repressão e à exclusão ganharão consideravelmente mais força se seu povo puder produzir análises e respostas às preocupações legítimas que confrontam a humanidade no continente. Se isso fosse permitido, a filosofia africana da educação teria adquirido um poder significativo em sua busca educacional por justiça.

Original em: https://theconversation.com/african-philosophy-of-education-a-powerful-arrow-in-universities-bow-62802

Marcos Carvalho Lopes

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