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Perfeita Simetria – Engenheiros do Hawaii

Toda obra do filósofo norte-americano Arthur C. Danto procuar desverlar as múltiplas dimensões da questão da identidade dos indiscerníveis: como podemos tomar a aparência por realidade; como podemos (na política) confundir cães e lobos; como duas ações iguais podem ter valores éticos distintos; como dois objetos identicos podem ter valores estéticos extremamente diferntes (como a caixa e Brillo do supermercado e aquela outra feita por Andy Warhol e exposta na galeria de arte); e até mesmo quando foi convidado a falar como padrinho de um casamento, problematizou as diferenças entre morar juntos (um acerto privado e precário), casar no civil (um pacto público que reconhece direitos e se relaciona com o Estado) ou no religioso (um pacto que transcende as relações humanas e busca sua vinculação com o sagrado)… é a mesma coisa, mas não é a mesma coisa.

Quando Andy Warhol colocou suas imitações de caixas de produtos de supermercado numa exposição de arte, não queria destruir o seu sentido, mas colocava a condição de produto como um dado inevitável para ser pensado.

Ao lançar o álbum O papa é pop em 1990 os Engenheiros do Hawaii foram acusados pela crítica de preguiça e falta de criatividade por repetirem a mesma melodia na faixa título “O papa é pop” e na canção que fechou o disco, “Perfeita Simetria”. Porém, as duas canções foram feitas para serem complementares em sua crítica a comodificação (tranformação em mercadoria) da vida e do cotidiano: se em o papa é pop há uma referência para condição de produto e de publicidade que está onipresente na busca por engajamento, por vender, por criar simpatia; na vida privada a promessa de uma pessoa que sirva como redençao, que seja a metade da laranja necessária,cuja posse seria a realização de todos os sonhos… só repete a dinâmica do consumo. Aqui se mistura a referência à Albert Camus e a busca de negar o absurdo da existência com uma teoria, um amor, tentando o suícidio (“viver assim é um absurdo, como outro qualquer, como tentar o suícidio ou amar uma mulher” diz a canção posterior “Muros & Grades”). A ironia dessa repetição perdeu muito de sua força, talvez descrever uma contradição que ainda nos prende: não somente as cartas, mas também as canções de amor romântico precisam ser – aberta ou secretamente – ridículas.

Perfeita Simetria

Marcos Carvalho Lopes

Um Comentário

  1. Adorei e achei super criativo. Hoje tem um monte de gente que brinca com Faroeste Cabloco fazendo isso e chamam de criativos.

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