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Preso por ser negro

Gonzalo Armijos Palácios (publicado originalmente no Jornal O Popular em 2015)

 Leio, na página da organização norte-americana Equal Justice Under the Law (Justiça Igual Sob a Lei), a seguinte informação. (Ela permite compreender, em algo, os protestos e as mortes de negros em Ferguson, Missouri): “Por muitos anos, as cidades de Ferguson e Jennings têm usado as cortes locais, as prisões e as forças policiais para gerar milhões de dólares em ganhos às custas dos seus residentes mais pobres. A busca de ganhos tem mudado completamente a natureza do governo local e do policiamento. Por exemplo, em 2014, Ferguson teve uma média de 3,62 ordens de arresto por família e 2,2 arrestos por cada adulto, na maior parte das vezes envolvendo multas de trânsito.” Note-se, são milhões de dólares que, em algumas cidades, representa mais do 60% de sua receita! Perceba, também, e tente imaginar o que representa, que cada família recebeu mais de três ordens de arresto, e que, por adulto, as ordens executadas chega a 2,2. Ou seja, Cada adulto recebeu, no mínimo, duas ordens de arresto, apenas em 2014! 
   Olhando bem o que essa matéria diz, percebe-se que as prefeituras e a polícia sobrevivem à custa de gerar multas nos mais pobres (a maior parte por infrações de trânsito) que sabem que eles não podem pagar. Ao não poder pagar, eles são presos. Uma vez presos, as multas vão aumentando de valor, obrigando os familiares a se endividar com agiotas ou fazer o que for possível para livrar seus parentes das condições terríveis que as prisões em que estão detidos oferecem. Que condições são essas? Segundo a mesma organização, estas: “Seres humanos padecem em celas cobertas por sangue, muco e fezes sem acesso a sabonete, escovas de dente, dentifrício, lavanderia, cuidados médicos, exercício, comida adequada, luz, livros, televisão ou materiais legais. Eles são informados que serão mantidos na prisão indefinidamente, a menos que suas famílias consigam arcar com quantidades de dinheiro arbitrariamente estipuladas e constantemente mudando para poder pagar por sua liberdade. Presos desesperados e suas famílias pegam dinheiro emprestado de forma desesperada para poder ter seus seres queridos fora da prisão, só para ficar sabendo que suas dívidas aumentaram em virtude de novas taxas. O ciclo se repete por anos”
   Não há muito para explicar. Mas é curioso que o filme “Selma” lembra os 50 anos da marcha da cidade de Selma a Montgomery, pelos direitos civis dos negros. O tempo passa, e novas maneiras de se explorar os mais fracos e de se escravizar os antigos escravos são inventadas e implementadas. Depois as pessoas se perguntam por que os negros protestam nos Estados Unidos e por que ainda são caçados e mortos.

 José Gonzalo Armijos Palacios - Possui graduação e doutorado em Filosofia pela Pontificia Universidad Católica Del Ecuador (1978 e 1982, respectivamente) e doutorado em Filosofia pela Indiana University (1989). Realizaou estudos de pós-doutorado na Indiana University em 1996 e 1997. Desde1992 é professor titular da Universidade Federal de Goiás.

Marcos Carvalho Lopes

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