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A caça aos negros nos Estados Unidos

Gonzalo Armijos Palácios (publicado originalmente no Jornal O Popular em 2015)

Nos últimos meses tenho escrito — acho que exclusivamente — sobre a situação dos negros nos Estados Unidos e, pelo que tem acontecido, usei termos como “caça aos negros”. Muitos poderiam pensar que tenho exagerado, apesar de eu procurar ser o mais ponderado na escolha das palavras. Bem, eu mesmo fiquei chocado — essa é o termo — ao ler uma matéria no The New York Times da última quarta-feira 20. A manchete, em primeira página, dizia simplesmente, e em jargão jornalístico: 1,5 Mi de Negros Faltando. Noutras palavras, em relação ao número de mulheres negras nos Estados Unidos, está “faltando” um milhão e meio de negros entre 25 e 54 anos. Mas, “faltando” como? Porque foram mortos ou porque estão presos. Em alguns lugares, como na cidade de Ferguson, Missouri, onde houve o assassinato daquele jovem que gerou tanta revolta, para cada 100 negras livres há 60 negros. Ou seja, 40% dos negros morreram ou estão presos. A proporção nacional para os brancos, não é de nos surpreender, é, de acordo à matéria, esta: para cada 100 brancas há 99 homens brancos naquela mesma faixa etária (dos 25 aos 54). 
   Desse milhão e meio de negros “faltando”, quase 600 mil estão presos. Isso significa que, no território daquele país como um todo, 1 entre cada 12 negros está preso. Entre outros grupos étnicos, a relação é de 1 para cada 60 homens. O estudo no qual a matéria se baseia mostra que entre crianças negras não existe diferença. Os negros começam a desaparecer na adolescência e a diferença já é marcada entre jovens negros de 20 e poucos anos.
   As consequências sociais e econômicas são óbvias. Mais mulheres negras sozinhas para manter suas famílias; um número maior de crianças negras nascidas fora do casamento; impossibilidade, por parte das mulheres negras, de ter a esperança de manter uma união estável e formar uma família etc. O estudo mostra que há mais negros faltando no território desse país do que residentes negros (homens) na cidade de Nova Iorque (cuja população é de quase oito milhões e meio de pessoas) ou mais de que a população total de homens negros (nessa faixa etária) morando nas cidades de Los Angeles, Filadélfia, Detroit, Houston, Washington e Boston juntas. Trocando em miúdos, o estudo mostra que para cada seis negros, entre 25 e 54 anos, mais de um está faltando por ter sido morto ou por estar preso.
   Terminarei o artigo com outra notícia. Acaba de acontecer em Parma, Missouri, uma comunidade rural de 700 habitantes que fica a 300 quilômetros da já conhecida Ferguson. Como reação ao que vem acontecendo nesses lugares, foi eleita a primeira mulher negra da cidade, Tyus Bird, de 40 anos. Ela derrotou Randall Ramsey que ocupou o cargo por mais de três décadas. Bem, pouco depois de ser declarada vencedora e antes de tomar posse, quatro dos seis oficiais da polícia local renunciaram, assim como outros dois funcionários, incluído aquele que deveria empossá-la no cargo. 
   Como podemos ver, nem coincidências nem exageros. É a contínua política de perseguição, discriminação e segregação que se reinventa e renova cada vez.

José Gonzalo Armijos Palacios - Possui graduação e doutorado em Filosofia pela Pontificia Universidad Católica Del Ecuador (1978 e 1982, respectivamente) e doutorado em Filosofia pela Indiana University (1989). Realizou estudos de pós-doutorado na Indiana University em 1996 e 1997. Desde1992 é professor titular da Universidade Federal de Goiás.

Marcos Carvalho Lopes

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