0

Enquanto os negros morrem por lá…

Gonzalo Armijos Palácios (publicado originalmente no Jornal O Popular em 2015)

 Aqui não é diferente. O relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial, de 2014, mostra que os jovens negros, aqui no Brasil, são as principais vítimas da violência. A proporção respeito da violência contra os jovens brancos, dependendo dos lugares, pode ser duas até treze vezes maior. Isto é, se for no Sudeste, o jovem negro tem o dobre de probabilidades de ser vítima da violência que o jovem branco. Já em alguns lugares do Nordeste, a probabilidade pode ser 13 vezes maior.
   Estudos publicados recentemente mostram que de 1980 a 2011 foram mortos mais de 28 mil jovens negros no país. Número três vezes maior que os homicídios de jovens brancos no mesmo período. Como o estudo abrange um período suficientemente longo, é possível ver que há uma tendência à diminuição do número de homicídios de jovens brancos e ao aumento do número de homicídio de jovens negros.
   Toda essa violência se enquadra numa política e num policiamento discriminatórios. Os negros já são vistos, não como inocentes, como exige a lei em qualquer país civilizado, mas como delinquentes natos que devem, antes, provar que são inocentes. Que os negros já são concebidos como delinquentes natos prova a atitude intimidatória e truculenta que diariamente vemos nos policiais de todas as partes do país quando abordam os negros que porventura têm a desgraça de estar por onde passam as patrulhas dessas “forças da ordem”.
   Quem lê o que está acontecendo nos Estados Unidos pode ver que há uma preocupação crescente com a forma como os policiais desse país concebem os negros. Lembro o leitor que escrevi um artigo sobre as práticas de tiro ao alvo num distrito policial na Florida: os alvos não eram essas cartolinas com círculos concêntricos, mas fotos de negros que alguma vez foram fichados pela polícia. Nestes dias foram publicadas algumas notícias sobre essa preocupação crescente. Em São Francisco, na Califórnia, mensagens de textos racistas entre membros da polícia provocou uma investigação sobre o problema. E o Ministério da Justiça desse país vai investigar as práticas racistas da polícia de Baltimore, como consequência dos fatos que vieram à luz ultimamente a raiz da morte daquele jovem negro que morreu sob custódia policial.
   Por lá se mata os negros, há uma reação da população e as autoridades são obrigadas a intervir, de alguma forma ou de outra. E enquanto os negros são mortos por lá e as autoridades intervêm, negros também são mortos por aqui. E as autoridades daqui? Bem, obrigado…

José Gonzalo Armijos Palacios - Possui graduação e doutorado em Filosofia pela Pontificia Universidad Católica Del Ecuador (1978 e 1982, respectivamente) e doutorado em Filosofia pela Indiana University (1989). Realizou estudos de pós-doutorado na Indiana University em 1996 e 1997. Desde1992 é professor titular da Universidade Federal de Goiás.

Marcos Carvalho Lopes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *